Perceber e sentir a ciência no dia-a-dia e todas as suas aplicabilidades é algo apaixonante e prazeroso.
A ciência proporciona o desenvolvimento das pessoas, das diversas áreas do conhecimento, do País e do Mundo.
No entanto, enquanto alguns conceitos são muito familiares aos profissionais de gestão – Planejamento Estratégico, Balance Scorecard, ROI, Gestão de Projetos, Balanços, Gestão de Pessoas, Proposta de Valor, Business Intelligence, Pay back, entre muitos outros; a pesquisa científica não tem o mesmo grau de importância.
Na área de saúde, é muito comum o afastamento, e até mesmo o preconceito, dos gestores em relação ao ensino e à pesquisa científica.
Ao analisar as origens desse fato, entendo ser, pelo menos em parte, decorrente da crescente e necessária profissionalização da Gestão dos Serviços de Saúde, que, até poucos anos, era amadora e familiar em sua grande maioria. Os próprios profissionais técnicos-assistenciais – médicos e demais membros da equipe de saúde – geriam os seus negócios. Enquanto que, nos últimos anos, este espaço passou a ser ocupado, principalmente, por administradores profissionais, sem formação técnica na área de saúde.
Por outro lado, o pouco interesse dos profissionais médicos assistenciais e/ou cientistas por posições de liderança administrativa proporciona a combinação perfeita para que ciência e administração pareçam antagônicos.
Tal situação proporciona, simplesmente, um desperdício enorme de recursos.
Ao participar de uma banca julgadora de um trabalho científico apresentado para conclusão de curso (TCC) de Residência Médica, consegui ter a nítida clareza do quão distante ainda estamos da ciência contribuindo diretamente na tomada de decisões dos administradores dos serviços de saúde.
Esclarecendo, para quem não é profissional da área de saúde: a Residência Médica é uma Pós-graduação “latu sensu” em que o indivíduo, já tendo concluído a graduação, presta um concurso para estudar e aperfeiçoar-se numa determinada área do conhecimento médico. Ao término desse período de formação suplementar, que tem duração de 2 a 5 anos, o médico possui a capacitação e o Título de especialista em uma determinada especialidade médica.
Pois bem, a pesquisa à qual me referi dizia respeito a um tema bastante atual, com prevalência crescente e de extrema importância, uma vez que atinge indivíduos jovens e traz muitos efeitos individuais e coletivos. Não vou entrar em maiores detalhes, mas o estudo constatou que não havia benefício em realizar determinado protocolo de investigação diagnóstica, com diversos exames complementares que eram de alto custo e não acrescentavam informações relevantes na tomada de decisão e nem nos resultados do tratamento.
Discutimos, como fazemos academicamente, todos os detalhes do método científico e a contribuição da pesquisa ao conhecimento e à prática clínica, bem como as próximas dúvidas a serem esclarecidas em futuras pesquisas da área. Mas não percebi a preocupação por parte dos cientistas em relação às implicações administrativas de tal constatação científica… realizamos exames de alto custo e sem benefícios.
Evidentemente que alertei a todos os presentes naquele fórum para este fato. No intuito de despertar no pesquisador e na audiência essa visão crítica da nossa realidade.
Por outro lado, os gestores daquela Instituição de saúde não tinham conhecimento suficiente sobre as pesquisas científicas realizadas naquele setor e do grau de importância das mesmas.
Conhecendo os dois ângulos de visão, posso afirmar que isso certamente acontece e pode ser extrapolado para diversos outras áreas e temas!
É evidente a necessidade de integrar “os dois lados” de quem faz parte do sistema de saúde, com interesse e respeito mútuos em prol de um bem maior. A Academia Médica precisa preocupar-se mais com os custos da prática clínica, bem como interessar-se em contribuir ativamente na administração dos serviços de saúde. Por outro lado, a Gestão da Saúde precisa respeitar, valorizar e incentivar mais os estudos científicos, bem como os profissionais que, de fato, estão na “linha de frente” da assistência.
Assim, podemos unir e complementar forças para otimizar a administração e os gastos em Saúde que, apesar de serem cada vez mais altos, não repercutem em melhorias evidentes nas condições de saúde dos indivíduos e da população como um todo.
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OBS: Este artigo foi originalmente publicado em 11 de outubro de 2019 no LinkedIn. (https://www.linkedin.com/pulse/ci%C3%AAncia-%C3%A9-viva-e-contribui-para-gest%C3%A3o-em-sa%C3%BAde-s-aguiar-yamaguchi/)