Um bom atendimento médico e as formas de remuneração

Como funciona um bom atendimento médico? Inicialmente, é fundamental entender que o corpo humano é um sistema complexo, cujo equilíbrio significa saúde. O desenvolvimento das doenças ocorre quando há algum desequilíbrio. Isso, normalmente, é influenciado por diversos fatores, tanto internos (genética, doenças anteriores ou atuais, histórico familiar, etc) como externos (hábitos, alimentação, atividade física, ritmo de vida, hábitos de sono, etc). Para fazer uma análise adequada do quadro clínico, o médico precisa conhecer e investigar detalhes sobre todos esses aspectos. Só assim, o profissional chegará a um diagnóstico completo e, consequentemente, orientará o tratamento adequado. Portanto, uma boa consulta envolve uma história clínica atenciosa, um exame físico cuidadoso e a solicitação de exames complementares, quando (e se) esses forem necessários. Isso chama-se Semiologia. E não é possível praticar adequadamente, em consultas com 10 minutos de duração. É fundamental entender também que, consequentemente, o tratamento adequado envolve atuar sobre os diversos pilares envolvidos no processo saúde-doença. E isso vai muito além de prescrever medicamentos! De outra forma, quando o atendimento não é assim realizado, corre-se um grande risco de fazer um diagnóstico superficial e instituir um tratamento insuficiente. Trata-se apenas os sintomas e não a (s) causa (s) base. Isso é ineficaz em longo prazo. Instaura-se um ciclo vicioso: trata, melhora (ou não) e volta a piorar. É preciso dizer (ainda que cause incômodo) que, todos os dias, são prescritos medicamentos que não resolvem ou até causam outros problemas de saúde, são solicitados exames desnecessários e realizadas cirurgias inadequadas. Quando, em algum momento da história, instaurou-se o sistema de “fee-for-service” na área de saúde, imagino que a característica fundamental da prática médica não tenha sido levada em consideração. Ou, no mínimo, foi deixada em segundo plano. Gestores e profissionais médicos se ajustaram. No entanto, o mundo mudou, o mercado evoluiu, os seres humanos tem suas características (boas e ruins); e, assim, desenvolveu-se, ao longo dos anos, um sistema ineficiente e cada vez mais caro! Constatando-se essa realidade, nos últimos anos, passou-se a buscar alternativas para solucionar esse problema – DRGs, “Bundle”, VBHC… Empacotar, parametrizar, protocolar, analisar desfechos, objetivar, tangibilizar… Sim, é necessário reformular o modelo falido que não se adequa mais ao despertar da atualidade. As motivações dos diferentes “players” são as mais diversas possíveis, sendo o mercado também um sistema complexo (tal qual o corpo humano!). Vivenciamos um verdadeiro “cabo de guerra” entre os envolvidos. E, sejamos honestos, muito se fala e se discute sobre qualidade; mas, na grande maioria das vezes, na prática, ainda valoriza-se (e paga-se) por quantidade. Está difícil fazer a transição. Espero (e desejo!) que possamos avançar de verdade e que encontremos os caminhos mais adequados, numa negociação de ganha-ganha. Algo está mudando. A Medicina é apaixonante quando a praticamos em sua totalidade, enxergando o ser humano como um todo – mente, corpo, alma e coração! E praticar a gestão em saúde com amor pelo ser humano acima de tudo, é fundamental. Não tratamos as doenças. Tratamos as pessoas. Não somos máquinas. Somos pessoas. E pessoas precisam de pessoas cuidando delas! #atendimentomedico #saude #remuneracaoemsaude #vbhc #feeforservice #dragilmara #gestaoemsaude #gestao #praticaclinica #medicina #wakenclinica OBS: Esse artigo foi publicado originalmente em 24 de junho de 2020 no LinkedIn. (https://www.linkedin.com/pulse/um-bom-atendimento-m%C3%A9dico-e-formas-de-remunera%C3%A7%C3%A3o-gilmara/)

Duas pandemias

Agora que o mundo inteiro já conhece o conceito de pandemia, precisamos chamar a atenção para o fato que estamos vivendo, na verdade, duas pandemias. Uma que “grita”, que parou o mundo e está chamando muita atenção, porque mata, e mata rápido, porque não sabemos muito a respeito, nem como tratar e controlar – a COVID-19. Mas temos uma outra, mais silenciosa, que não causa tanta comoção, mas também mata, só que mais lentamente – a pandemia de obesidade. O sobrepeso e a obesidade quase triplicaram no mundo nos últimos 50 anos. Existem, atualmente, mais de 2 bilhões de adultos com sobrepeso, o que representa 39% da população mundial. É triste constatar que 380 milhões das crianças e adolescentes tem sobrepeso ou obesidade, sendo 38 milhões abaixo de 5 anos de idade. Isso vai repercutir pela vida inteira desses jovens. Há um componente genético relacionado, mas o nosso estilo de vida, as nossas escolhas e os nossos hábitos influenciam diretamente no desenvolvimento dessas doenças. A obesidade é PREVENÍVEL! Globalmente, há mais mortes relacionadas a sobrepeso e obesidade, e suas consequências (diabetes, infartos, AVCs, alguns tipos de câncer), do que por subnutrição. No entanto, isso não causa nenhum alarde. A pandemia da COVID-19 vem “escancarando” a realidade de quão frágil é o indivíduo com sobrepeso, obeso e/ou com doenças metabólicas. Infelizmente, temos testemunhado muitos jovens obesos com quadros graves de COVID e diversas mortes. Nos plantões, um dos fatos que chama a atenção é vermos idosos (magros) em melhores condições clínicas do que jovens (obesos). Tenho esperança que o coronavírus deixe também esse legado em alguns (ou em muitos!) – o despertar para a necessidade de combater a obesidade. Nunca é tarde para começar a cuidar melhor da saúde. Mudar hábitos é possível! Não digo que é fácil, mas é possível. As nossas escolhas – o que comemos, o que pensamos, como vivemos – refletem no equilíbrio que é a saúde. E um dia a conta chega! Cada um tem uma forma de encontrar o seu caminho. Alguns conseguem sozinhos ou com ajuda de amigos e familiares. Outros, com ajuda profissional. E está tudo certo e tudo bem! Esclarecer para evitar! Conscientizar para tratar! #pandemia #obesidade #covid19 #wakenclinica #saude #prevencaoemsaude #nutrologia #promocaoemsaude #dragilmara OBS: Esse artigo foi publicado originalmente em 17 de junho de 2020 no LinkedIn. (https://www.linkedin.com/pulse/duas-pandemias-gilmara-s-aguiar-yamaguchi/)

A ciência é viva e contribui para a Gestão em Saúde!

Perceber e sentir a ciência no dia-a-dia e todas as suas aplicabilidades é algo apaixonante e prazeroso. A ciência proporciona o desenvolvimento das pessoas, das diversas áreas do conhecimento, do País e do Mundo. No entanto, enquanto alguns conceitos são muito familiares aos profissionais de gestão – Planejamento Estratégico, Balance Scorecard, ROI, Gestão de Projetos, Balanços, Gestão de Pessoas, Proposta de Valor, Business Intelligence, Pay back, entre muitos outros; a pesquisa científica não tem o mesmo grau de importância. Na área de saúde, é muito comum o afastamento, e até mesmo o preconceito, dos gestores em relação ao ensino e à pesquisa científica. Ao analisar as origens desse fato, entendo ser, pelo menos em parte, decorrente da crescente e necessária profissionalização da Gestão dos Serviços de Saúde, que, até poucos anos, era amadora e familiar em sua grande maioria. Os próprios profissionais técnicos-assistenciais – médicos e demais membros da equipe de saúde – geriam os seus negócios. Enquanto que, nos últimos anos, este espaço passou a ser ocupado, principalmente, por administradores profissionais, sem formação técnica na área de saúde. Por outro lado, o pouco interesse dos profissionais médicos assistenciais e/ou cientistas por posições de liderança administrativa proporciona a combinação perfeita para que ciência e administração pareçam antagônicos. Tal situação proporciona, simplesmente, um desperdício enorme de recursos. Ao participar de uma banca julgadora de um trabalho científico apresentado para conclusão de curso (TCC) de Residência Médica, consegui ter a nítida clareza do quão distante ainda estamos da ciência contribuindo diretamente na tomada de decisões dos administradores dos serviços de saúde. Esclarecendo, para quem não é profissional da área de saúde: a Residência Médica é uma Pós-graduação “latu sensu” em que o indivíduo, já tendo concluído a graduação, presta um concurso para estudar e aperfeiçoar-se numa determinada área do conhecimento médico. Ao término desse período de formação suplementar, que tem duração de 2 a 5 anos, o médico possui a capacitação e o Título de especialista em uma determinada especialidade médica. Pois bem, a pesquisa à qual me referi dizia respeito a um tema bastante atual, com prevalência crescente e de extrema importância, uma vez que atinge indivíduos jovens e traz muitos efeitos individuais e coletivos. Não vou entrar em maiores detalhes, mas o estudo constatou que não havia benefício em realizar determinado protocolo de investigação diagnóstica, com diversos exames complementares que eram de alto custo e não acrescentavam informações relevantes na tomada de decisão e nem nos resultados do tratamento. Discutimos, como fazemos academicamente, todos os detalhes do método científico e a contribuição da pesquisa ao conhecimento e à prática clínica, bem como as próximas dúvidas a serem esclarecidas em futuras pesquisas da área. Mas não percebi a preocupação por parte dos cientistas em relação às implicações administrativas de tal constatação científica… realizamos exames de alto custo e sem benefícios. Evidentemente que alertei a todos os presentes naquele fórum para este fato. No intuito de despertar no pesquisador e na audiência essa visão crítica da nossa realidade. Por outro lado, os gestores daquela Instituição de saúde não tinham conhecimento suficiente sobre as pesquisas científicas realizadas naquele setor e do grau de importância das mesmas. Conhecendo os dois ângulos de visão, posso afirmar que isso certamente acontece e pode ser extrapolado para diversos outras áreas e temas! É evidente a necessidade de integrar “os dois lados” de quem faz parte do sistema de saúde, com interesse e respeito mútuos em prol de um bem maior. A Academia Médica precisa preocupar-se mais com os custos da prática clínica, bem como interessar-se em contribuir ativamente na administração dos serviços de saúde. Por outro lado, a Gestão da Saúde precisa respeitar, valorizar e incentivar mais os estudos científicos, bem como os profissionais que, de fato, estão na “linha de frente” da assistência. Assim, podemos unir e complementar forças para otimizar a administração e os gastos em Saúde que, apesar de serem cada vez mais altos, não repercutem em melhorias evidentes nas condições de saúde dos indivíduos e da população como um todo. #gestao #gestaoemsaude #ciencia #cienciaegestao #pesquisa #pesquisacientifica #posgraduacao #saude #medicina #wakenclinica #dragilmara OBS: Este artigo foi originalmente publicado em 11 de outubro de 2019 no LinkedIn. (https://www.linkedin.com/pulse/ci%C3%AAncia-%C3%A9-viva-e-contribui-para-gest%C3%A3o-em-sa%C3%BAde-s-aguiar-yamaguchi/)

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